
É muito engraçado como algumas memórias nossas ficam fragmentadas.
Eu lembro claramente do meu professor de Educação Física na 4ª série me tirando de algumas aulas de português e matemática para me ensinar a jogar xadrez, mas não consigo lembrar do nome, nem da fisionomia dele.
Até hoje eu fico em dúvida se eu estava matando aula ou não 😂
O fato é que aos 9 ou 10 anos de idade, lá por 1999, por causa desse professor que eu não lembro quem era, eu aprendia um esporte que viria a se tornar um dos meus principais hobbies na vida adulta.
Hoje, no momento em que escrevo esse artigo, já se passaram 25 anos e eu poderia trazer uma história inspiradora para você sobre como, após muita dedicação e talento, eu me tornei um dos principais enxadristas do país – MAS NÃO É ESSA A MINHA HISTÓRIA! 🤦♂️😂
Nunca participei de nenhum torneio de xadrez, não ganhei medalhas, prêmios, nunca parei para estudar profundamente as técnicas e estou longe, muito longe de estar no ranking dos melhores jogadores.

A história que quero contar pra você é sobre o que o xadrez me ensinou ao longo dos anos sobre a VIDA! Por isso, separei 5 lições transformadoras para compartilhar aqui.
Lições que ficaram mais nítidas para mim quando comecei a me estudar de verdade, a investigar a minha mente, coração e alma. Lições que mudaram a forma como eu conduzo a minha vida e que podem te ajudar a mudar a sua.
O que você vai ver nesse post:
1. Cuidado com as comparações
2. Frequentemente esquecemos a importância dos pequenos passos
3. Perder faz parte do processo
4. Você precisa saber quando deve desacelerar
5. Às vezes a melhora é imperceptível – seja gentil com você
Só para contextualizar o que vou dizer a seguir, preciso compartilhar com você esse gráfico da minha jornada no mundo do xadrez. Eu uso o site Chess.com, um dos maiores do mundo, para jogar desde Fevereiro de 2019. Se eu ganho uma partida, acumulo alguns pontos, porém, quando eu perco, meus pontos são reduzidos – simples! Quando parei para analisar o meu progresso ao longo desses anos tive alguns insights.

1. Cuidado com as comparações
Com o avanço da neurociência, diversos estudos científicos têm nos mostrado como o ato de se comparar com os outros pode ser prejudicial à saúde mental e emocional. O excesso na comparação (ou se comparar da forma errada) pode gerar inseguranças, baixa autoestima, estresse, ansiedade e até causar depressão.
Ou seja, SE COMPARAR DO JEITO ERRADO É MUITO PERIGOSO!
No livro 12 regras para a vida, o psicólogo Jordan B. Peterson nos explica que a comparação acontece da seguinte forma:
Dentro de nós habita uma voz e um espírito que conhece todos os nossos limites, nosso CRÍTICO INTERNO. Ele nos põe para baixo escolhendo um domínio de comparação arbitrário e singular (fama, poder, corpo físico ou “o quanto você é bom em xadrez”, por exemplo).
Depois AGE COMO SE ESSE DOMÍNIO FOSSE O ÚNICO RELEVANTE. Como se todas as outras coisas que você sabe fazer não tivesse a menor importância.
Então, ele o compara DESFAVORAVELMENTE a ALGUÉM REALMENTE EXTRAORDINÁRIO DENTRO DAQUELE DOMÍNIO.
E, pronto, sua motivação para fazer qualquer coisa pode ser efetivamente minada.
Quem, quando criança, não sonhou em ser cantor(a) e desistiu da ideia por não chegar aos pés do seu cantor ou cantora favorito? Quantas crianças não desistiram da sua carreira como jogador de futebol porque não jogavam como a Marta ou o Neymar?
Essa comparação com os extremos é muito nociva! Não chegar aos pés dos melhores em qualquer área, não significa que você não ocuparia uma posição de destaque, não significa que você não alcançaria o sucesso.
Curiosamente, atingi minha melhor pontuação no xadrez no dia 1º de janeiro de 2025 – 1.592 pontos. Porém, se eu me comparar com os grandes mestre de xadrez, todos acima dos 3.200 pontos, poderia me sentir extremamente desanimado e desmotivado, ainda mais, se considerar que é praticamente impossível alcançar o nível deles 😅

Outra informação bem “desanimadora” é que ainda existem mais de 309 mil jogadores com uma pontuação acima da minha, só considerando a base de jogadores do Chess.com.
Se eu deixo o meu CRÍTICO INTERNO assumir o controle, não há razão para ficar jogando xadrez!
Também é dessa forma que as redes sociais agem em nossa vida. Algumas pessoas passam horas rolando o feed do instagram e vendo a vida “perfeita” das pessoas. Quando olham para as próprias vidas, o crítico interno assume seu papel e traz milhares de argumentos para nos convencer que vivemos uma vida medíocre. Consequência disso? Estresse, irritação, ansiedade e até depressão 🤦♂️
Agora, quando deixo de me apegar ao CRÍTICO INTERNO e mudo o foco da observação para o meu EU DO PASSADO, eu passo a me comparar comigo mesmo e não com outra pessoa.
Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje!
Jordan B. Peterson
Se a métrica de comparação é o MEU EU DO PASSADO o jogo fica muito mais saudável. Você entra em uma disputa contra você mesmo. Passa a buscar a sua melhor versão e não uma competição com o outro.
Por exemplo, no lugar de focar na pontuação (inalcançável) dos grandes mestres de xadrez eu posso olhar as minhas próprias métricas.
- No dia 1º de janeiro de 2025 eu alcancei minha melhor pontuação no Chess.com. Uma meta que eu não superava desde novembro de 2023. Ou seja, passei mais de um ano tentando superar minha própria marca – e consegui 😅
- Modéstia à parte, com minha pontuação atual estou no 4% dos usuários do Chess.com com as melhores pontuações do mundo 😱 Pra mim, isso é uma baita conquista.
Eu tenho consciência que não chego aos pés dos grandes mestres. Não me iludo querendo alcançá-los – e esse nem é meu objetivo. Porém, tenho muito orgulho de todo o meu progresso no xadrez. De tudo o que construí ao longo dos anos. E, a parte mais importante, jogar xadrez me faz muito feliz (por mais que eu me estresse um pouco quando perco mais de 2 partidas seguidas 😆).
Então, a lição aqui é: cuidado com as comparações! Não me entenda mal, as comparações são, sim, necessárias. Mas o foco da sua comparação deve ser com a sua versão de ontem.
Utilize os resultados do outro apenas como motivação, como inspiração para continuar evoluindo na sua própria jornada.
Colocando em prática:
- Um exercício legal para praticar essa lição é escrever em um papel três áreas em que você se compara excessivamente com os outros. Agora, anote qual era a sua realidade nessas áreas há 5 anos e reflita sobre o quanto você evoluiu.
2. Frequentemente esquecemos a importância dos pequenos passos
Outra lição muito valiosa que o xadrez me ensinou é que todo avanço é construído um passo por vez.
No jogo da vida real, não existe uma fórmula mágica que resolve os seus problemas de uma hora para outra. Não tem como chegar no topo em um instante ou do dia para a noite.
Todo progresso leva tempo e cada pequeno passo te ajuda a consolidar os seus aprendizados. São as pequenas tarefas frequentes que possibilitam a construção de um resultado extraordinário.
É uma conta matemática simples. Pequenos passos feitos todos os dias, se tornam grandes distâncias no longo prazo. Por exemplo:
- Se você treinar 3 vezes por semana, ao longo de um ano você terá feito 156 treinos.
- Se você fizer 50 abdominais por dia, ao longo do ano terá feito 18.250 abdominais (talvez dê até para conseguir aquela barriga “tanquinho” 😅).
- Ao ler 10 páginas de um livro por dia, ao final de um ano você terá lido 3.650 páginas, o que equivale à uns 14 ou 15 livros.
Como eu disse, é matemático!

Desde fevereiro de 2019 eu participei de 11.537 partidas de xadrez. Foram 2.151 dias jogando. Uma média de 5 a 6 partidas, todos os dias. Isso me permitiu estar entre os 4% melhores jogadores do mundo.
Esse é o poder de executar pequenos passos com constância.
Agora, pense naquela sua meta que parece inalcançável. Como ela pareceria se você a dividisse em pequenas etapas? Te garanto que será muito mais fácil de perseguir esse seu sonho um passo de cada vez.
Lembre-se, não subestime os pequenos passos. Eles são muito mais importantes do que você imagina e serão os responsáveis por te levar aos resultados extraordinários.
Colocando em prática:
- Escolha um hábito que você quer construir e o divida em pequenos passos.
3. Perder faz parte do processo
Ok, essa é uma daquelas lições que é meio difícil de engolir, afinal, quem gosta de perder?
Mas se tem uma coisa que o xadrez me ensinou é que perder faz parte do processo!
Os meus números deixam isso bem claro. Eu perdi mais partidas do que ganhei ao longo desses anos. E essa é uma realidade dentro de qualquer esporte.
Michael Jordan costumava lembrar que ele mesmo já havia errado mais de 9.000 cestas e perdido quase 300 jogos.
Em 26 diferentes finais de partidas fui encarregado de jogar a bola que venceria o jogo… e falhei. Eu tenho uma história repleta de falhas e fracassos em minha vida.
Michael Jordan
E é exatamente por isso que sou um sucesso.
Você só alcançara resultados expressivos ao se dedicar mais que a maioria das pessoas. E, se dedicando mais, você também errará mais.
Voltando ao xadrez. Desde 2019 eu acumulei 5.252 vitórias contra 5.796 derrotas 😐 Fui derrotado em 51% de todas as partidas que joguei e venci apenas 46% delas.

Mas foi exatamente nesse processo de perder e continuar tentando que pude corrigir os meus erros e melhorar a minha performance.
Tem algo muito interessante no processo de perder: é mais fácil lembrar das derrotas do que das vitórias. Essa é uma tendência natural do nosso cérebro, algo construído ao longo da nossa evolução.
O cérebro humano costuma lembrar mais das derrotas do que das vitórias, um fenômeno conhecido como viés da negatividade. Algo que surgiu ao longo da evolução, pois os humanos que prestavam mais atenção aos erros e perigos tinham maior chance de sobreviver.
Eventos negativos ativam a amígdala, parte do cérebro responsável por processar emoções e consolidar memórias, tornando as experiências ruins mais marcantes e difíceis de esquecer. É uma questão de sobrevivência.
Lembro da minha primeira prova na faculdade de Direito. Estudei quase a vida toda em escola pública e, apesar de ter tido um bom ensino nos anos iniciais do ensino fundamental, nunca me senti verdadeiramente desafiado no colégio. Porém, ao receber minha primeira nota 3 em Direito Civil, senti na pele o gostinho da derrota 😐 Mas outra coisa interessante aconteceu – guardei por muitos anos na memória a resposta correta daquelas questões que eu tinha errado na prova 😅 De certa forma, aprender a estudar e começar a tirar boas notas no curso de Direito também era uma questão de sobrevivência.
Então, não fique tão chateado(a) com a derrota. Perder te proporciona uma grande oportunidade de aprender verdadeiramente. Da próxima vez que você perder em algo, faça uma análise dos seus erros, tente identificar o que você poderia ter feito diferente. Estude os seus erros e o seu crescimento será gigantesco.
Colocando em prática:
- Na próxima vez que você sentir que perdeu tire um momento para analisar essa derrota e:
a) escreva três coisas que aprendeu com ela.
b) reflita sobre o que você pode fazer diferente da próxima vez.
4. Você precisa saber quando deve desacelerar
Em um mundo onde tudo parece estar cada vez mais acelerado, essa talvez seja a lição mais importante – DESACELERE!
De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem de síndrome de burnout.
Outra pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou o Brasil na liderança dos países com mais pessoas com ansiedade – 26% da nossa população é ansiosa!
Estamos vivendo no automático, nosso ritmo está cada vez mais acelerado, quase frenético. E tudo à nossa volta parece contribuir para isso. Já parou pra imaginar quantos vídeos Reels, Shorts ou Tiktok você visualiza em 5 minutos de tela? E quantas emoções você acessa nesse mesmo período (raiva, tristeza, alegria, nostalgia, todas uma atrás da outra)?
Eu sempre fui uma pessoa muito ansiosa, porém, considero que o xadrez me ajudou muito a trabalhar essa ansiedade. Como falei no início, quando ganho uma partida de xadrez ganho alguns pontos (geralmente 8 pontos), porém, quando eu perco a partida, também perco pontos.
Ou seja, perder várias partidas seguidas faz a minha pontuação despencar 😐 Portanto, eu desenvolvi o hábito de sempre que eu perdia duas ou três partidas na sequência, eu parava de jogar!
No gráfico abaixo é possível ver alguns picos de quedas na minha pontuação, momentos em que eu estava ansioso e queria ganhar à qualquer custo 😅

O que eu aprendi com esses momentos? Não adianta insistir quando a nossa cabeça não está alinhada!
Tem dias que nós não estamos bem. Que a cabeça não funciona na mesma velocidade de sempre. Você está cansado do dia no trabalho, preocupado com as faturas do cartão que só aumentam, exausto porque o seu projeto não decola. Por infinitos motivos diferentes, em alguns dias, “seremos péssimos jogadores”.
E está tudo bem, desde que você aprenda a reconhecer e respeitar esses momentos.
Se eu insisto em jogar mais e mais partidas de xadrez nesses dias é bem provável que eu só vá perder. Tomarei decisões erradas. Deixarei de ver o ataque do meu oponente sendo montado. Não terei paciência para posicionar minhas peças da forma correta. Até, sacrificarei peças importantes por descuido. Resultado disso? Perderei várias partidas e terei que me dedicar um tempo enorme para voltar ao ponto em que estava.
Não há sabedoria alguma em persistir sabendo que você não está em condições de ganhar. Isso não é resiliência, é teimosia.
Muitas das vezes em que eu insistia em continuar jogando, mesmo quando não estava bem, eu buscava apenas uma vitória para me “sentir melhor”. Aquela vitória para lavar a alma, sabe? Mas dificilmente ela vinha.
Então, aprenda a respeitar o momento pelo qual você está passando. Se perceber que no lugar de estar no seu 100%, você só consegue entregar 20% hoje, está tudo bem. Não há nada de errado com isso. Mas, no lugar de sair enfrentando todas as batalhas do seu dia, apenas desacelere.
Dizendo de outra forma, haverão dias em que você não dará conta de matar o seu leão, então, sente e bata um papo com ele, respire fundo, medite um pouco, desacelere o seu ritmo e curta esse momento.
Colocando em prática:
- Na próxima vez que você sentir que está em um dia ruim, com a energia baixa, pare um pouco, respire fundo, coloque uma música que te relaxe e desacelere (nem que seja apenas por alguns minutos).
5. Às vezes a melhora é imperceptível – seja gentil com você
Separei essa como a última das lições transformadoras justamente porque acredito que, em regra, somos duros demais conosco.
Não sei se você também é assim, mas já percebi que costumo ser mais compreensível com as outras pessoas do que comigo mesmo. Quando a gente é apaixonado por desenvolvimento pessoal sempre parece que não estamos fazendo o suficiente, que poderíamos estar melhores, ter chegado mais longe.
Essa auto cobrança pode ser prejudicial para você e, pior ainda, na maioria das vezes é injusta e incoerente.
Focando de forma excessiva na criação de nossa melhor versão, podemos esquecer de vivenciar o quanto já crescemos e evoluímos.
Uma frase que gosto de lembrar de vez em quando é:
Eu me lembro dos dias em que orei por coisas que tenho hoje!
Autor desconhecido
É bem possível que os resultados que você tem hoje, a vida que você vive hoje já seja um reflexo das coisas que você desejava no passado.
O mesmo vale quando falamos do seu processo de desenvolvimento pessoal. Acredito que a sua versão de hoje é melhor do que a sua versão de 5 anos atrás. Você possui mais experiência, mais vivência e, provavelmente, enxerga o mundo com mais maturidade.

Voltando para o xadrez, eu ando me cobrando para passar dos 1.600 pontos. Cheguei bem perto dessa última vez, porém, ainda não aconteceu.
Essa auto cobrança deve sempre ser positiva, como um lembrete para que eu continue avançando, olhando para frente. Porém, não posso me esquecer de todo o meu crescimento ao longo dessa jornada.
Quando eu olho para os meus resultados de 2020 eu lembro do quão frustrado eu ficava por não atingir os 1.300 pontos no xadrez. É muito engraçado como é fácil esquecer do quanto já evoluímos e focar apenas na cobrança.
Então, como mensagem final para esse artigo desejo que você continue focado(a) nos seus processos de evolução pessoal, porém, que não se esqueça de ser gentil consigo mesmo e de comemorar cada pequena vitória.
Qual dessas lições ressoou mais com você? Tem algum hoobie que também te ensinou muito? Deixe um comentário aqui no artigo ou em uma das minhas redes sociais 😉
Gratidão pela leitura e até a próxima!